A semana de 5 a 10 de outubro foi marcada pela divulgação de indicadores econômicos relevantes para o Brasil. A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 2,99 bilhões em setembro de 2025, representando uma queda de 41,1% em relação ao mesmo mês de 2024. Apesar da retração, o resultado ficou acima da expectativa do mercado, que projetava saldo positivo de US$ 2,65 bilhões.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,48% em setembro, após recuar 0,11% em agosto. O resultado veio ligeiramente abaixo da projeção de alta de 0,52%, mostrando desaceleração parcial da inflação. No acumulado do ano, o IPCA soma 3,64%, enquanto em 12 meses atinge 5,17%, sinalizando uma tendência de recomposição gradual dos preços após meses de volatilidade.
Já o Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mede a variação dos preços na porta de fábrica, recuou 0,20% em agosto de 2025 frente a julho, configurando o sétimo resultado negativo consecutivo. A sequência de quedas reflete o enfraquecimento da demanda industrial e o arrefecimento dos custos de produção em determinados segmentos.
Nos Estados Unidos, a divulgação da balança comercial foi adiada devido à suspensão temporária das atividades do Bureau of Economic Analysis (BEA), em razão do shutdown do governo federal. A paralisação trouxe incertezas sobre a agenda de dados econômicos norte-americanos nas próximas semanas.
Com esse pano de fundo, a Bolsa brasileira apresentou uma semana de movimentos mistos, com destaque para algumas ações em alta e outras registrando perdas expressivas.
Altas

O Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) encerrou a semana com alta de 2,86%, impulsionado por movimentações internas de governança corporativa. O acionista Ricardo Maciel de Gouveia Roldão indicou a si próprio para concorrer a uma vaga no Conselho de Administração, conforme comunicado ao mercado. Roldão, que detém 1,85% do capital social, é fundador da rede de atacarejo Roldão Atacadista e ex-presidente da Associação Brasileira dos Atacadistas de Autosserviço (2014–2018).
Em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), os acionistas aprovaram a destituição de todos os membros do Conselho e a formação de um novo colegiado com nove integrantes, cujo mandato seguirá até a aprovação das demonstrações financeiras de 2026. O movimento foi liderado pela família Coelho Diniz, que possui 24,6% das ações da companhia.
A Auren (AURE3) também apresentou bom desempenho, com valorização de 2,70% na semana. O avanço ocorreu após o J.P. Morgan elevar o preço-alvo da ação de R$ 11,50 para R$ 13,60, mantendo recomendação neutra. A revisão indica potencial de valorização superior a 30%, refletindo maior otimismo do mercado em relação ao desempenho operacional da elétrica.
A Ultrapar (UGPA3) avançou 1,34% na semana, impulsionada por um movimento técnico de correção. Segundo Rodrigo Brolo, analista e sócio da AAX Investimentos, o papel estava “sobrevendido” e chegou a um nível de suporte importante, o que naturalmente estimulou compras reativas. Além disso, o setor foi favorecido pelo enfraquecimento das ‘bandeiras brancas’, após fiscalizações em postos de combustíveis realizadas no país.
Baixas

No campo negativo, a Raízen (RAIZ4) liderou as perdas, com forte queda de 13,86% na semana. As ações atingiram patamar inferior a R$ 0,90, o menor valor desde o início das negociações da empresa. Segundo a agência Broadcast, os títulos de dívida externa (bonds) da companhia também recuaram significativamente, refletindo preocupações com o ritmo de consumo de caixa. Há percepção no mercado de que o aporte de R$ 10 bilhões realizado pela Cosan (CSAN3) pode não ser suficiente para reequilibrar as finanças do grupo.
De acordo com Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital, o desempenho operacional da Raízen tem sido pressionado por uma combinação de queda nos preços do açúcar, redução nas margens agrícolas e energéticas e perda de participação no mercado de combustíveis, o que afeta diretamente volume e rentabilidade.
A MRV (MRVE3) teve retração de 13,77%, reagindo à divulgação de resultados trimestrais aquém das expectativas. As vendas líquidas totalizaram R$ 2,445 bilhões no terceiro trimestre de 2025, recuo de 0,5% na comparação anual e de 8,9% frente ao trimestre anterior. Os lançamentos atingiram R$ 2,355 bilhões, representando queda de 9,4% em relação a 2024 e 31,7% ante o segundo trimestre.
A companhia reportou geração de caixa ajustada de R$ 30 milhões, resultado impactado por atrasos em repasses de programas regionais de habitação. Segundo a MRV, sem esses atrasos, o caixa teria atingido R$ 123 milhões. O desempenho reacendeu preocupações sobre o ritmo de recuperação da construtora, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
A Brava Energia (BRAV3) também figurou entre as maiores quedas, com desvalorização de 11,64%. A companhia anunciou, em 9 de outubro, a paralisação parcial da produção onshore na região de Potiguar (RN), em decorrência de uma auditoria programada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O processo deve se estender até 10 de outubro, e a empresa afirmou que divulgará o impacto da interrupção assim que a auditoria for concluída.
A notícia foi recebida com surpresa pelo mercado, e analistas ainda divergem quanto ao impacto efetivo na produção e no fluxo de caixa da companhia.
A semana foi marcada por indicadores econômicos mistos e oscilações relevantes no mercado de capitais brasileiro. Enquanto o superávit comercial e a inflação dentro das expectativas trouxeram certo alívio aos investidores, o ambiente global de incerteza, somado a fatores setoriais e corporativos, manteve o mercado volátil e seletivo. No curto prazo, a atenção permanece voltada à política monetária doméstica e às definições fiscais, que tendem a direcionar o comportamento da bolsa e do câmbio nas próximas semanas.
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