O mês de julho marcou uma forte reversão no fluxo de capital estrangeiro na B3, com saída líquida de R$ 6,268 bilhões, considerando as operações nos mercados primário e secundário. Foi o pior resultado mensal em 15 meses e o segundo saldo negativo do ano, contrastando com o ingresso de R$ 5,390 bilhões registrado em junho. O resultado reflete o aumento da aversão ao risco por parte dos investidores internacionais, em um cenário marcado por volatilidade externa, tensões comerciais entre Brasil e EUA e incertezas políticas domésticas.

O saldo negativo de julho foi impulsionado por um volume de compras acumuladas de R$ 271,637 bilhões (pior desempenho mensal do ano) frente a R$ 278,009 bilhões em vendas. Além disso, apenas R$ 104 milhões foram captados via operações de Follow-on, evidenciando a postura mais cautelosa dos investidores diante das indefinições provocadas pelo conflito comercial com os Estados Unidos.
O saldo acumulado de capital estrangeiro na Bolsa ainda permanece positivo em 2025, totalizando R$ 20,637 bilhões, um pouco abaixo do ritmo observado no primeiro semestre. A desvalorização de 4,17% no Ibovespa em julho, que retornou ao patamar de 133 mil pontos, reforça o impacto direto da menor entrada de recursos estrangeiros sobre os ativos locais.
O principal gatilho para a saída de capital foi o anúncio das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros feito pelo presidente dos EUA, Donald Trump, alegando ameaças à segurança nacional e violações de direitos humanos. A medida, que entra em vigor em 6 de agosto, atinge setores estratégicos como aço, alumínio, carne e café, embora quase 700 produtos tenham sido isentos, incluindo aeronaves, papel reciclado e suco de laranja.
As tarifas, combinadas com críticas diretas ao governo brasileiro e sanções contra autoridades como o ministro do STF, Alexandre de Moraes, adicionaram tensão política ao ambiente econômico. Moraes foi alvo da Lei Magnitsky, que permite bloqueios de bens e sanções a autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos, o que acirrou a percepção de risco institucional sobre o Brasil.
Além da saída de capital e da queda do Ibovespa, o conflito comercial também pressionou o câmbio, levando à desvalorização do real frente ao dólar. A moeda americana encerrou junho cotada a R$ 5,6021, com alta de 2,66% no mês, refletindo o aumento da aversão ao risco por parte dos investidores. Esse cenário aumentou as especulações sobre possíveis impactos inflacionários e sobre os próximos passos da política monetária. Ainda assim, o Banco Central optou por manter a Selic em 15% ao ano, o que mantém o Brasil entre os países com os maiores juros reais do mundo, fator que ainda garante algum atrativo para investidores de renda fixa.
A deterioração das relações diplomáticas e comerciais com os EUA aumenta a incerteza em relação à continuidade dos investimentos estrangeiros. Analistas destacam que o retorno do fluxo positivo dependerá de avanços nas negociações tarifárias e de um ambiente político mais previsível. As eleições brasileiras de 2026 ou uma eventual reaproximação comercial com os EUA são vistos como possíveis gatilhos para a retomada do apetite externo.
Ao mesmo tempo, o movimento global de realocação de capitais para emergentes segue em curso, embora o Brasil, que antes era visto como beneficiário, hoje enfrente dificuldades adicionais. O alerta da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) sobre a estagnação nos investimentos de longo prazo na América Latina reforça a necessidade de estabilidade política e regras claras para manter a competitividade da região.