Planejamento é palavra de ordem para quem quer ter a vida financeira organizada em 2023. E ele passa pelas tarefas mais cotidianas.
Antes de ficar tentando adivinhar o valor gasto com pizza todo mês, por exemplo, a orientação é inserir a despesa em um app de controle financeiro (como o Minhas Economias) ou colocar no papel, para entender a representação sobre sua receita mensal, que inclui valores de salário, de serviços prestados como pessoa jurídica, microempreendedor individual ou de forma autônoma.
Ao lado desses números, é fundamental inserir sempre seus gastos diários, entre os fixos e os eventuais, inclusive os bem pequenos, que costumam ser desprezados.
“É muito importante anotar despesas e receitas, e não gastar mais do que ganha”, afirma Thiago Ramos, gerente da Serasa. “Parece simples, mas muitas pessoas não fazem isso. (…) Depois de três meses, o consumidor já começa ter a noção de quanto gasta.”
De acordo com Ramos, cerca de 20% dos brasileiros costumavam realizar esse exercício em 2020. Já no segundo ano da pandemia de Covid-19, em 2021, a parcela aumentou para 40%, tendo em vista a preocupação maior com a situação financeira, agravada pela crise econômica do período.
Eduardo Dellavolpi, planejador financeiro com certificação CFP e consultor CVM, destaca que o orçamento tem que ser fidedigno, contemplando realmente os gastos e os destinos do dinheiro. Ele sugere uma planilha anual para que a realidade financeira fique mais clara, facilitando o planejamento.
Da lista de receita versus despesas, devem constar itens como IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para quem tem carro, IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para proprietários de imóveis, seguros de saúde e de veículos e mensalidades escolares, entre outros, destaca.
“Quando a pessoa faz essa lista, pode ficar um pouco decepcionada”, diz Dellavolpi, citando a possibilidade de se perceber que a receita é menor do que os gastos.
Nesse caso, algo tem que ser feito para mudar a situação. É aí que o planejamento se torna ainda mais necessário, inclusive para avaliar o caso de mudança de emprego ou a necessidade de trabalhos extras para cobrir o orçamento.
Com o aplicativo Minhas Economias, o processo de controle das contas é facilitado. Além de poder inserir seus dados manualmente, o app está conectado às instituições Santander, Itaú, Nubank, Banco Inter e Bradesco.
Os clientes desses bancos podem checar, por meio do Minhas Economias, suas informações sobre gastos em cartões, limites e saldo em conta corrente, entre outros. É possível, por exemplo, visualizar o saldo consolidado de todos os bancos e o de cada um separadamente, assim como acessar os dados da fatura do cartão de crédito.
Na primeira tela do aplicativo, está disponível o total de ganhos obtidos e gastos realizados no mês, separados por forma de pagamento e categorias, além de gráficos com análises desses dados.
“50%-30%-20%”
Para conseguir se planejar, é importante ter um método como guia. O indicado por profissionais em educação financeira é o dos “50%-30%-20%”. “Os consumidores que adotam esse método diminuem muito o risco de ficarem inadimplentes”, afirma Ramos, da Serasa.
O modelo define a parcela da receita que pode ser gasta com determinadas despesas. Nos 50%, são incluídos os gastos básicos – como aluguel, prestação de financiamento imobiliário, água, luz, gás, supermercados, educação e impostos.
Outros 30% da renda devem cobrir gastos com lazer, viagens, roupas, lanches, refeições fora de casa, eletroeletrônicos, eletrodomésticos e compras diversas realizadas no cartão e de itens de pequeno valor. “E tudo que se tem de parcelamento deve entrar nesses 30% também”, assinala o gerente da Serasa.
O mais importante é não deixar os gastos correspondentes ao bolo de 30% avançarem no dinheiro que sobrar – os 20% restantes, que servirão como “reserva de emergência”.
Reserva para emergência
“Quando você guarda 20% todo mês, depois de cinco meses, tem um mês inteiro de despesas [cobertas]. É um bom pé-de-meia que ajuda na tomada de decisões melhores, a se preparar para emergências”, diz Ramos.
O gerente da Serasa ressalta que 2023 não dá sinais de uma situação macroeconômica melhor que a de 2022. Por isso, não dá para descuidar (mesmo!) da reserva financeira.
Atenção aos cartões
Agora, atenção às compras parceladas no cartão de crédito. O valor total delas tem que ser considerado no orçamento mensal. Ao somar as parcelas a vencer mês a mês, pode sobrar pouco ou quase nada para a realização de novas compras, sejam elas à vista ou parceladas.
“Senão, vira uma bola de neve. No quarto mês, por exemplo, tem três, quatro parcelas [de várias compras] a pagar, já ultrapassando o limite dos 30%”, diz Ramos.
Caso esse teto seja atingido, a orientação é interromper as compras parceladas até que sejam zeradas.
“De acordo com esse método, não se pode gastar mais. E aí é hora de apertar o cinto e ficar, infelizmente, sem dar aquela saída para o shopping, sem fazer aquela viagem, sem comprar uma roupa”, alerta o gerente da Serasa.
Quanto mais cartões de crédito o consumidor tiver, mais complexo fica administrar as despesas. Pesquisa da Serasa de 2020 mostrou que 29% dos entrevistados tinham cinco cartões ou mais.
“Imagine você casar todas essas datas de vencimento com o recebimento do seu salário? O brasileiro tem o costume de pagar quase tudo no cartão de crédito. Então, fica muito perigoso deixar a administração de cartões de crédito solta.”
Os empréstimos feitos no cartão de crédito são, inclusive, os principais responsáveis pela inadimplência dos brasileiros hoje.
Em segundo lugar estão as contas básicas (água, luz e gás), e, em terceiro, as dívidas com o comércio, desde o de bairro até as lojas de shoppings, como as grandes varejistas.
Fale sobre finanças!
Compartilhar a situação financeira com a família é uma forma de poder ter mais controle da vida financeira. “Quando isso é feito, todos podem ajudar a economizar”, diz Dellavolpi.
Para o planejador, a clareza da realidade financeira deixa todos os integrantes da família mais comprometidos com a gestão das receitas e das contas a pagar.
Informações e orientações sobre o tema estão disponíveis no canal da Serasa no Youtube e no blog da instituição. Há também um produto pago por meio do qual o usuário tem disponível, entre outros, o serviço de alerta sobre alguma consulta de fornecimento de crédito feita em seu nome, o que pode ser útil para prevenção de fraudes.
Tem espaço para investir?
Depois de organizar as contas, com os gastos adequados à regra dos 50%, 30% e 20%, é hora de pensar em investimentos. Estudar o mercado é imprescindível, destaca Kelly Carvalho, assessora econômica da FecomercioSP.
“É preciso conhecer para investir. Como se vai investir no que não se conhece?”, diz o gerente da Serasa.
A iniciativa pode até começar pela poupança, mas depois é necessário procurar outra aplicação, ainda que de baixo risco, porém com maior retorno, considerando o cenário de incertezas econômicas à frente, ressalta a assessora da FecomercioSP.
E vale ficar atento novamente: o recurso para o investimento tem que sair dos 30% ou dos 50%, e não da fatia dos 20%. “O investimento não é uma reserva de emergência”, diz Ramos.
A chamada reserva de emergência precisa estar à mão, disponível, com possibilidade de ser resgatada a qualquer momento para cobrir despesas não programadas.
O ideal é buscar alguma opção conservadora, como no Tesouro Direto, em títulos bancários como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) ou fundos do tipo DI, de preferência sem taxa de administração.
Colocar a fatia de 20% em investimentos de renda variável, como ações, pode levar à perda de parte do valor, caso haja necessidade de resgate em um momento de baixa no preço dos papéis, por exemplo.
Segundo o gerente da Serasa, não há outro método a seguir para a organização das finanças, mas as pessoas podem adequá-lo à sua realidade, inclusive mexendo nos gastos entre os 30% e os 50%, desde que não extrapole os 80% de limite de uso da receita mensal.