Dando continuidade à nossa conversa sobre a conveniência ou não de associar-se o pagamento da mesada à execução de tarefas em casa, mais alguns aspectos merecem cuidadosa atenção.
Em primeiro lugar, é preciso considerar-se a possibilidade de seu filho recusar-se a cumprir as tais tarefas na semana em que, por exemplo, não sinta necessidade de receber dinheiro. Vamos tomar uma situação que torne esta situação mais clara: imagine que, depois de muito pensar, você resolveu atrelar a semanada do Joãozinho ao banho que ele deverá dar, todos os sábados, no cachorrinho de vocês.
Muito bem. A intenção é louvável e já sabemos que sua preocupação é que Joãozinho não cresça acreditando que, na vida, é lícito ganhar dinheiro sem esforço. Mesmo assim, acredite: sábados haverão em que Joãozinho, por preguiça, birra, ou, quem sabe, por desconfiar da qualidade da educação financeira que está recebendo, vai recusar-se a dar banho no Totó.
A cena está armada. Da tentativa inicial de resolver o conflito lançando mão de argumentos, você avança, célere, para a ameaça de cortar a semanada. Joãozinho, insensível à sua cólera, bate pé, firme na decisão. Está feito o estrago. Sua autoridade escorreu pelas mãos, a tão estudada educação financeira de seu filho virou uma bagunça e , na melhor das hipóteses, só o Totó saiu ganhando -se ele não for mesmo amigo dos tais banhos.
Mas há, ainda, um outro entrave sério à dobradinha mesada/ tarefas, muito especialmente em países que, como o nosso, são movidos pelo costume viciado de ter-se em casa uma empregada. Convenhamos que fica difícil explicar – e convencer- à Suzaninha que o recebimento da mesada depende de que ela colabore na ordem da casa. É bem verdade que, se todos os outros membros da casa colaborarem, provavelmente ela não venha a opor forte resistência. à idéia.Pode ser muito educativo, inclusive. Mas, francamente, se todo mundo colaborasse para que a empregada?
De toda forma, é preciso, sobretudo, estar atento ao fato de que as tarefas usuais e essenciais à organização da rotina familiar não devem ser objeto de pagamento por uma razão muito simples : o bem-estar da família deve fundar-se em princípio, meio e fim, na preocupação e carinho de seus membros uns pelos outros – e nunca no dinheiro.
Existem, é claro, várias maneiras de educar-se os filhos para que aprendam a valorizar o trabalho. Várias, fáceis e estimulantes para pais e filhos. Mas sobre isso a gente conversa depois.
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Educadora com especialização em educação infantil, Cássia D´Aquino é bacharela em História com pós-graduação em Ciências Políticas, ambos pela UFMG. Autora de artigos e livros sobre Educação Financeira, desde 1995 é criadora e coordenadora do Programa de Educação Financeira em inúmeras escolas do País. Atua como palestrante em Congressos de Educação e Encontros de pais no Brasil e exterior. É Corresponding Member da IACSEE- International Association for Citizenship, Social and Economics Education, organização com sede na Inglaterra.
É a representante do Brasil no Global Financial Education Program, iniciativa voltada para o desenvolvimento da educação financeira da população de baixa renda em todo o mundo. É assessora de diversas instituições públicas e privadas para criação e desenvolvimento de programas de largo alcance. Entre outras iniciativas, podem ser destacadas o BC Jovem (Banco Central); De Bem com as Contas (Companhia Siderúrgica Nacional -CSN); Tudo em Dia, Tudo Azul (Citibank); SonhosReais (Serasa Experian); e Contas no Azul (Força Aérea Brasileira- FAB).
Além disso, é mãe de Pedro, sua melhor idéia, projeto e resultado