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Brasileiro está mais endividado, mas (ainda) pagando as contas em dia; entenda por quê

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Suas Dívidas (2)

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O brasileiro está mais endividado do que nunca, mas ainda assim está conseguindo manter o pagamento das contas em dia. O que explica a inadimplência sob controle é o prazo mais longo das dívidas. No entanto, segundo economistas, esse cenário pode mudar a partir do ano que vem, em especial pelo efeito que a inflação tem sobre a renda.

A taxa de inadimplência em outubro era de 2,3%, segundo dados do Banco Central. Esse percentual é a fatia de atrasos acima de 90 dias no total de créditos do país. O índice está praticamente igual, apenas 0,1 ponto percentual abaixo do registrado 12 meses antes.

Considerando apenas as operações voltadas para as pessoas físicas, a inadimplência no mês passado era de 3%, também com lideira queda de 0,1 ponto percentual em 12 meses.

Dados do BC mostram que o endividamento em julho (dado mais recente) chegou a 59,2%. Isso significa dizer que as dívidas representavam 59,2% da renda acumulada em 12 meses.

Esse percentual até registrou uma leve queda de 0,3 ponto percentual na comparação com junho, mas segue bem acima dos 50,2% de 12 meses antes. Em 2019, para se ter ideia, o endividamento não chegava a 50%.

Mas por que o endividamento está em alta e a inadimplência sob controle?

Segundo Izis Ferreira, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), uma das razões é o alongamento das dívidas e as repactuações feitas ao longo do ano passado.

Quando a pandemia da Covid-19 teve início, as instituições financeiras optaram por oferecer aos clientes carências e refinanciamento em prazos mais longos.

“As pessoas estão mais cautelosas e buscando renegociar os compromissos que não estão cabendo no orçamento. O prazo maior vai fazer o consumidor pagar mais juros, mas não vai ficar inadimplente”, disse.

Efeito da inflação

Levantamento da CNC mostra ainda que o perfil das dívidas é diferente entre as diferentes rendas. Na faixa até dez salários mínimos (até R$ 11 mil), o que mais subiu foram as dívidas de curto prazo, como cartão de crédito, cheque especial e carnê.

“Essas famílias têm uma maior necessidade de recomposição de renda. A inflação está afetando negativamente o orçamento”, diz Ferreira.

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,67% nos 12 meses encerrados em outubro.

Guilherme Dietze, economista da Fecomercio-SP, lembra que dois terços do orçamento das famílias de menor renda é destinado a três grupos de consumo. Habitação, no qual entram gastos como gás e energia elétrica, alimentação e transporte. Todos esses itens têm mostrado alta bem acima da inflação.

“Com essa restrição na renda, compras que eram feitas à vista no cartão passam a ser pagas em três, vez, por exemplo. O importante é aliviar um pouco, mas talvez não seja possível pagar lá na frente”, diz.

Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, há também um maior uso do cartão, mas o que mais cresceu foram as dívidas de longo prazo, como financiamento imobiliário ou de veículos.

Além da inflação, que não dá sinais de respiro, outros fatores podem dificultar a manutenção do pagamento das dívidas em dia. O principal deles é a desaceleração da economia.

Neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer próximo de 5%. Para o ano que vem, as projeções apontam para uma expansão de 1% – e há bancos que já preveem recessão, como é o caso do Itaú.

Com economia crescendo menos, menor o ímpeto do empresário a investir e gerar novos empregos. Os dados mais atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no trimestre encerrado em agosto (junho, julho e agosto), o Brasil contava com 13,7 milhões de desempregados, uma taxa de desocupação de 13,2%.

Inadimplência deve subir

Com inflação e desemprego ainda elevados, a expectativa é de aumento da inadimplência. Um dos maiores bancos do país, o Bradesco (BBDC3, BBDC4), já trabalha para esse cenário.

Para lidar com um possível aumento dos calotes, a instituição registrava R$ 44,6 bilhões em provisões para devedores duvidosos (PDD) em setembro, montante 0,6% abaixo do registrado em igual mês de 2020 e 0,5% acima da provisão do trimestre imediatamente anterior. A pequena variação deve-se ao reforço nas provisões que o banco, assim como os demais concorrentes, fizeram no início da pandemia, em que a incerteza predominava.

O banco registrou uma inadimplência de 2,6% no terceiro trimestre, ante 2,5% no segundo trimestre e 2,3% em igual período de 2020. Esse desempenho está abaixo do patamar histórico do banco e uma leve piora é esperada para os próximos trimestres.

“Acho que a inadimplência pode avançar um pouco na pessoa física. Para empresas, não vejo um problema” disse Otavio Lazari, presidente do banco, durante a divulgação dos resultados do terceiro trimestre.

Apesar do avanço, a expectativa é que a inadimplência fique abaixo do nível recorde da instituição, 5,6%, registrado no primeiro trimestre de 2017.

O Banco do Brasil (BBAS3) também espera esse aumento na inadimplência. Na instituição, os atrasos acima de 90 dias representavam 1,82% do total da carteira de crédito, ante 2,43% no terceiro trimestre de 2020. Segundo José Ricardo Forni, vice-presidente de gestão financeira do BB, é natural que o nível de atrasos tenha um incremento.

“A inadimplência deve acompanhar o crescimento da carteira e se normalizar, abandonando um pouco o efeito (das renegociações) da pandemia”, disse, durante teleconferência de resultados.

Para Ferreira, da CNC, os primeiros meses de 2022 serão determinantes para saber o comportamento da inadimplência no país.

“O primeiro trimestre vai ser muito difícil para a economia em geral. Vai passar o momento de euforia e as contratações de final de ano começarão a ser revertidas. É um período para se observar”, alerta.

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