Nas últimas semanas, o cenário econômico e político brasileiro foi dominado por intensos debates em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Em 22 de maio de 2025, o governo federal anunciou um pacote de medidas que incluíam o aumento, a unificação e a criação de novas alíquotas para o imposto, com o objetivo declarado de reforçar a arrecadação e cumprir as metas fiscais. No entanto, a decisão gerou uma forte e imediata reação negativa por parte do mercado financeiro e do Congresso Nacional. Investidores e analistas expressaram grande preocupação, interpretando as mudanças como um possível sinal de controle de fluxo de capitais, o que poderia impactar a confiança e afastar investimentos. Essa percepção inicial de risco levou a uma reação adversa na bolsa de valores, com o Ibovespa registrando queda, refletindo a apreensão dos investidores. Analistas do Goldman Sachs, por exemplo, apontaram para potenciais efeitos secundários nas ações do setor financeiro, especialmente para empresas com maior exposição a planos de previdência VGBL de alta renda e operações de crédito corporativo, embora ponderassem que os bancos poderiam repassar parte dos custos aos clientes. Menos de seis horas após a publicação do decreto, a pressão foi tamanha que o governo recuou parcialmente, revogando o aumento para remessas de fundos de investimento nacionais para o exterior (mantendo a alíquota zerada) e para o envio de recursos por pessoas físicas para investimentos fora do país (mantendo a alíquota de 1,1%).
Contudo, as alterações que incidem sobre operações de câmbio, crédito para empresas e planos de previdência privada do tipo VGBL permaneceram em vigor, mantendo o foco do mercado financeiro nessas áreas. A insatisfação, porém, não se dissipou. Diante da repercussão negativa e da ameaça de derrubada do decreto, o Congresso Nacional intensificou a pressão por mais revogações. Em 31 de maio, o presidente da Câmara, Hugo Motta, solicitou a suspensão imediata do IOF sobre operações de risco sacado, um ponto de grande sensibilidade para o setor produtivo. A escalada das tensões culminou em uma reunião crucial em 3 de junho, envolvendo o presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os líderes do Congresso. O encontro resultou no adiamento do anúncio de medidas alternativas ao aumento do IOF, com a nova data marcada para 8 de junho. Essa postergação reflete a complexidade das negociações e a necessidade do governo de alinhar as propostas com o colégio de líderes, buscando um consenso que evite maiores turbulências no mercado e no ambiente político.
O que é o IOF?
O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é um imposto federal cobrado pelo Governo Federal sobre diversas operações financeiras realizadas por pessoas físicas e Jurídicas. Ele incide sobre operações de crédito, câmbio, seguro e operações de títulos e valores mobiliários. Além de ser uma fonte de arrecadação para o governo, o IOF também funciona como um instrumento de controle da economia, permitindo que o governo monitore e influencie as movimentações financeiras do país.
Quando o IOF é cobrado?
- Compras internacionais: Utilização de cartões de crédito e débito internacionais, cartões pré-pagos internacionais e cheques de viagem para gastos pessoais no exterior ou em sites internacionais.
- Câmbio: Compra ou venda de moedas estrangeiras em espécie.
- Transferências internacionais: Envio de recursos do Brasil para o exterior ou do exterior para o Brasil.
- Empréstimos e financiamentos: Contratação de empréstimos e financiamentos, com exceção de financiamentos de imóveis residenciais.
- Cheque especial e crédito rotativo: Utilização do cheque especial e do crédito rotativo do cartão de crédito.
- Investimentos: Resgates de alguns tipos de investimentos, como CDBs, Títulos do Tesouro Direto, Letras de Câmbio (LCs) e Fundos DI, caso o resgate ocorra em menos de 30 dias da aplicação.
- Seguros: Contratação de seguros, como seguro de vida e seguro de carros
Tabela do IOF
Operação | Alíquota |
Empréstimo e financiamento | de 0,38% a 3,38% |
Cartão de crédito | 3,5% |
Seguro | até 25% |
Câmbio de moedas | 3,5% sobre o total |
Impacto do IOF nos investimentos
- Investimentos nacionais
No Brasil, o IOF é cobrado principalmente em aplicações de renda fixa com resgate em menos de 30 dias, como CDBs, Tesouro Direto, LCs e Fundos DI. A alíquota é regressiva, começando em 96% sobre os rendimentos no primeiro dia e caindo gradualmente até zerar no 30º dia. Ou seja, quanto mais cedo o resgate, maior o imposto. Essa regra busca desestimular aplicações de curtíssimo prazo e incentivar o investimento de longo prazo.
Além disso, o IOF é cumulativo com o Imposto de Renda, o que torna essencial o planejamento do prazo de aplicação para preservar a rentabilidade líquida.
- Investimentos estrangeiros no Brasil
O IOF também incide sobre o capital estrangeiro que entra e sai do país, por meio do chamado IOF-Câmbio. O governo pode ajustar as alíquotas conforme o cenário econômico — reduzindo para atrair recursos ou elevando para conter fluxos excessivos.
Nos últimos anos, houve alterações nas alíquotas para investimentos estrangeiros em renda fixa, com o objetivo de equilibrar a arrecadação e a competitividade do mercado brasileiro. Apesar disso, fundos nacionais que investem no exterior continuam isentos, mas remessas e retiradas feitas por estrangeiros podem ter IOF, dependendo da operação.
- Investimentos do Brasil para o exterior
Investidores brasileiros que aplicam no exterior também enfrentam o IOF, especialmente nas operações de câmbio. Desde 2025, a alíquota foi unificada em 3,5% para envios de recursos destinados a investimentos, incluindo ações, fundos e imóveis internacionais.
Essa unificação, embora simplifique a regra, aumentou o custo de acesso ao mercado internacional, impactando diretamente a estratégia de diversificação global. O imposto recai sobre transferências para contas de mesma titularidade ou terceiros e deve ser considerado no planejamento financeiro.
Como rastrear o IOF
É possível monitorar o IOF com ferramentas simples:
- Extratos bancários: Mostram IOF em operações como empréstimos e câmbio.
- Faturas de cartão: Indicam o IOF em compras internacionais.
- Informes de rendimentos: Detalham o imposto cobrado em resgates de investimentos.
- Apps e planilhas: Ajudam a centralizar e acompanhar seus gastos com IOF.
Como reduzir o impacto do IOF
- Viagens internacionais: Prefira dinheiro em espécie ou cartões pré-pagos, que podem ter IOF menor que o cartão de crédito (3,5%).
- Investimentos de longo prazo: Mantenha aplicações por mais de 30 dias para eliminar o IOF sobre os rendimentos.
- Evite crédito caro: Cheque especial e rotativo do cartão têm IOF diário e juros altos. Uma reserva de emergência ajuda a não depender dessas linhas.
- Invista com isenção de IOF: LCI, LCA e poupança são livres do imposto e podem ser boas opções dependendo do perfil do investidor.
- Fique atento à legislação: As regras do IOF podem mudar. Acompanhe fontes confiáveis para ajustar sua estratégia financeira quando necessário.