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Inflação na prática: automóveis, carnes e até o cuscuz vão ficar mais caros

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O bolso do brasileiro não tem um dia de paz e a calmaria ainda vai demorar a chegar, já que o aumento no preço de diferentes insumos, consequência da guerra na Ucrânia, será cada vez mais repassado aos preços, atingindo em cheio a renda do consumidor.

O primeiro exemplo desse efeito recai sobre os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, em que o aumento foi anunciado no dia 10 de março (com altas de 18,8%, 24,9% e 16,1%, respectivamente). Infelizmente, as elevações não vão parar por aí. Automóveis e peças para veículos, carnes em geral, energia e derivados de milho e soja também vão sofrer novos aumentos de preços nos próximos meses.

“As surpresas inflacionárias estão aí sendo encomendadas. Há um choque de oferta em função da guerra”, diz Julio Hegedus Netto, economista na Mirae Asset.

Até o início do ano, a expectativa era que a inflação, que fechou 2021 a 10,06%, começasse a recuar entre abril e maio, chegando perto de 5% ao fim do ano. O cenário mudou e o IPCA em 12 meses está em 10,54% e o boletim Focus indica que o mercado prevê alta de 6,59% para o ano fechado de 2022.

Mas o que é exatamente esse choque de oferta? Esse é o termo dado quando uma determinada situação (pandemia, guerra) altera ou impossibilita o fornecimento de mercadorias ou serviços. A oferta dos produtos cai e os preços, sobem.

Esse primeiro choque de oferta está se dando nas commodities, com petróleo, grãos e minério de ferro subindo mais forte que o esperado. Isso significa que os produtos que utilizam esses insumos também vão ter seus preços elevados.

Para o economista, esse choque de oferta será maior a medida que a guerra na Ucrânia se estenda, já que o contexto atípico tende a agravar a situação das cadeias produtivas.

Carros ainda mais caros

Esse é o caso de veículos. Era esperado que, em 2022, os preços dos automóveis parassem de subir, já que haveria uma normalização na entrega de semicondutores e, adicionalmente, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos.

“A redução de IPI deve segurar um pouco a taxa do aumento dos preços, mas os preços não vão se manter nos níveis que estão hoje”, diz Fernando Trujillo, analista do setor automotivo da empresa de pesquisa IHS Markit.

A razão é que o aumento do minério de ferro encarece o aço, um dos principais insumos do setor automotivo. Outros fatores de risco inflacionário para essa indústria são a eventual interrupção no fornecimento de peças devido ao conflito na Ucrânia e a recomposição dos preços por parte das fabricantes de autopeças.

Ainda falando sobre o aço, a construção civil também deve sofrer nos próximos meses com o aumento do preço, refletindo a valorização do minério de ferro no mercado internacional.

“Alguns setores conseguem repassar os preços. É o caso daqueles que vendem para a construção civil, como de aço e cimento, que subiram mais do que a inflação”, explica o economista Luís Barone, sócio-diretor da Galápagos Capital.

E mesmo quem não vai comprar um carro, reformar ou comprar um imóvel continuará convivendo com os efeitos da inflação. Além de o reajuste dos combustíveis afetar o preço dos fretes, há ainda um efeito na alimentação, que acaba atingindo em maior escala as famílias de menor renda.

Efeito nos alimentos

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) lembra que os preços nos supermercados têm subido acima do registrado pelo IPCA. O índice Abrasmercado subiu 11,5% no ano passado.

Para esse ano, a pressão deve partir de diferentes produtos. Frutas, carnes e alimentos em geral devem ficar mais caros ao longo do ano.

No caso da banana, o impacto nos preços em 2022 será proveniente dos maiores custos de energia (a fruta é acondicionada em estufas). Para 2023, deve pesar o aumento do preço dos fertilizantes (o Brasil importa o insumo, principalmente, da Rússia).

Já o milho e a soja são usados na alimentação de animais, sendo responsáveis por cerca de 70% dos custos. Com isso, são esperados novos aumentos nos preços de frango, suínos e carne bovina.

E o milho, que já subiu mais de 20%, tem 15% da produção nacional destinada ao consumo humano. É esse o insumo básico para a farinha de milho, canjica, fubá. Sim, o cuscuz ficará mais caro. O mesmo ocorre com o trigo, utilizado na fabricação de pães, massas e bolachas.

Por fim, a redução do IPI deve beneficiar o setor de higiene pessoal, beleza e cosméticos. No entanto, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene (Abihpec) não sabe dizer se esse alívio chegará ao preço final. No caso de empresas que estão com margens apertas, o efeito deve ser apenas o de postergar reajustes.

“É difícil fazer diagnóstico claro, porque o mercado está difícil de prever”, diz João Basílio, presidente da associação.

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