Se, pra você, dinheiro na mão é vendaval, provavelmente é melhor investir em previdência privada e, de preferência, através de débito automático no mesmo dia em que o salário é creditado. Já para as pessoas mais disciplinadas, a resposta já não é tão simples. Veja o que você deve levar em conta para tomar a sua decisão.
Há alguns pontos que são decisivos para a tomada de decisão correta:
1 – Se o seu empregador patrocina o plano de previdência, ou seja, ele aporta uma certa quantia desde que você também contribua, não tenha dúvidas de que você realmente deve investir neste plano, ao menos até o valor que faça com que o seu empregador contribua o máximo previsto;
2 – Se a sua intenção é a de ter uma ferramenta para planejamento sucessório ou mesmo para que sua família possa acessar parte do patrimônio rapidamente, ter um plano de previdência é uma boa alternativa;
3 – Se você declara o imposto de renda usando o formulário simplificado ou simplesmente não tem renda tributável, esqueça o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre). O diferimento fiscal proporcionado por este plano não estará ao seu alcance.
A seguir listamos quais as vantagens e desvantagens de cada alternativa:
Gerenciar recursos por conta própria
Vantagens:
– Você adequa o investimento da forma que deseja, de acordo com o seu perfil de risco. O problema aqui é que você precisará estudar sobre finanças pessoais e entender como as diferentes alternativas de investimento funcionam, ou seja, precisará dedicar tempo;
– Você pode fazer o balanceamento de sua carteira de forma muito mais rápida e mais simples;
– Você economiza no pagamento de taxas de carregamento e de administração;
Desvantagens:
– Não usufrui do diferimento fiscal do PGBL caso declare o imposto de renda pelo formulário completo e tem renda tributável;
– Não tem acesso às alíquotas regressivas de imposto de renda;
– Demanda mais tempo para estudar e acompanhar os investimentos;
– Em caso de falecimento, o patrimônio investido deverá ser inventariado, o que gera demora no acesso da família a estes recursos e ainda haverá o pagamento do ITCMD, Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (na maioria dos estados a uma alíquota de 4% sobre o valor total dos bens).
Ter um plano de previdência privada
Vantagens:
– Possibilidade de diferimento fiscal no PGBL. Até 12% da renda bruta pode ser descontada da base de cálculo do imposto de renda resultando no pagamento de um menor imposto de renda. O IR será pago apenas no resgate ou no pagamento do benefício;
– Possibilidade de se optar por alíquotas regressivas de imposto de renda;
– Maior facilidade e não-pagamento de ITCMD na transferência de bens (herança);
– Investidor pouco disciplinado pode ter o investimento em previdência privada descontado diretamente de sua conta-corrente;
– Ao contrário dos fundos de investimento, os fundos de previdência não são tributados semestralmente (come-cotas).
Desvantagens:
– Custos podem ser altos (taxa de administração e de carregamento);
– Não é possível escolher os investimentos, apenas escolher o perfil;
– Fundos de previdência aberta deverão ter carteira com prazo médio de pelo menos 5 anos até 2015. Isto gera maior risco e, consequentemente, maiores oscilações na cota do fundo
Nossa dica
Para procurar investimentos melhores ou fundos de previdência melhores, é preciso pesquisar bastante. Nos gráficos abaixo, iremos mostrar se vale mais a pena gerir o dinheiro por conta própria ou contratar um plano de previdência em diferentes cenários.
Em nossa simulação, mostramos o que acontece em cada uma das três alternativas de investimento: gestão de recursos por conta própria, aplicação em PGBL e aplicação em VGBL. No exemplo, o investidor tem uma renda bruta tributável anual de R$ 100 mil. No caso do PGBL, ao aplicar 12% da renda bruta tributável, a base de cálculo para fins de IR passa de R$ 100 mil para R$ 88 mil. Como não há outros investimentos, o valor que sobra no final, após o pagamento do imposto é de R$ 73.286,96. No caso da gestão própria e do VGBL, como não há diferimento fiscal, a base para apuração de IR acaba sendo os próprios R$ 100 mil. Após o pagamento do imposto e da aplicação de R$ 8.700, sobram os mesmos R$ 73.286,96. Vale ressaltar que os R$ 8.700 equivalem aos R$ 12.000 multiplicados por 82,5% ( 100% – 27,5%), ou seja, o valor que sobraria caso tivesse que pagar o IR sobre o valor investido no PGBL.
Assim, nos gráficos abaixo, o investimento em PGBL parte do valor inicial de R$ 12.000 enquanto os demais partem de R$ 8.700. Para facilitar as contas, usamos as seguintes premissas:
1 – O investimento por conta própria é feito na forma de uma aplicação em uma LCI que remunera a uma taxa de 85% do CDI. Optamos pela LCI pois se trata de um produto com baixo risco e cada vez mais acessível a investidores com esta faixa de renda. Além do mais, por ser isenta de imposto de renda para pessoas físicas, facilita a apresentação do nosso exemplo;
2 – Tanto no PGBL quanto no VGBL, consideramos uma taxa de administração de 2,2% ao ano e uma taxa de carregamento de 2,5%. Estes valores foram obtidos observando-se as taxas praticadas pelos grandes bancos para estes montantes de investimento. Adicionalmente, consideramos também que os fundos de previdência têm rentabilidade bruta (antes da taxa de administração e do imposto de renda) de 105% do CDI, para que tenham um risco de mercado compatível com o da LCI e possam ser comparáveis;
3 – Apresentamos os saldos já líquidos de imposto de renda e de taxas de administração e de carregamento. No caso do PGBL e do VGBL, o regime de tributação escolhido é o regressivo, pois após 10 anos a alíquota passa a ser a menor possível (10%).
Com uma taxa de CDI a 8% ao ano durante todo o período de investimento (Gráfico 1), o PGBL gera saldos líquidos finais maiores do que as demais alternativas até os 30 anos. Após este período, a gestão própria gera melhores resultados, dentro das premissas assumidas, é claro.
Já com o CDI a 6% ao ano (Gráfico 2), a taxa de administração do PGBL acaba pesando mais e faz com que esta alternativa seja melhor somente até os 19 anos.
No Gráfico 3, o CDI a 10% ao ano faz com que o PGBL gere melhores resultados por quase todos os anos, à exceção dos anos iniciais por conta das altas alíquotas de IR neste período (iniciando em 35% nos 2 primeiros anos).
O que podemos observar dos nossos exemplos é que:
– Quanto menor a rentabilidade esperada, maior será o peso das taxas de administração no desempenho dos fundos de previdência. No passado recente, em que tínhamos taxas de juro mais altas, o peso das taxas de administração era menor e não era tão aparente o quanto era pago aos administradores dos planos;
– O VGBL só é indicado para aqueles que não conseguem se controlar e precisam de um “carnê” para poupar ou pretendem usar o produto como instrumento de planejamento sucessório. As taxas de administração e de carregamento precisam diminuir bastante para que passe a ser um produto de investimento competitivo;
– O PGBL é uma alternativa de investimento interessante por conta do diferimento fiscal. Deixa-se de pagar 27,5% de imposto de renda agora para pagar apenas 10% daqui a vários anos no resgate, caso a opção de tributação tenha sido a tabela regressiva. Para aqueles que optarem pelo regime de tributação progressivo, ainda há a possibilidade de não pagar imposto de renda algum se os resgates ou pagamentos de benefícios forem feitos em parcelas com valores dentro do limite de isenção e se não houver outras fontes de renda tributáveis.
Obviamente, tanto na gestão própria quanto na aplicação em planos de previdência privada, pode-se melhorar bastante os ganhos pesquisando por produtos com custos mais baixos e retornos mais interessantes, mesmo sem assumir grandes riscos. No entanto, é preciso pesquisar bastante e não se contentar em aceitar apenas os produtos oferecidos pelo seu gerente de banco.
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