O brasileiro vai ter que desembolsar (muito) mais dinheiro para torcer pela seleção de futebol na Copa de 2022. Alguns “itens essenciais” do torcedor acumulam alta de mais de 70% desde a última Copa – e ainda podem subir um pouco mais até a estreia do time do técnico Tite, em 24 de novembro.
A alta é disseminada e não irá passar desapercebida. Em muitos itens, a elevação supera o índice oficial de inflação, o IPCA, que acumula elevação de 28,7% desde a última Copa.
Um dos exemplos é a camisa oficial da seleção brasileira, lançada pela Nike no início de agosto a R$ 349,90, valor 40% superior ao preço de lançamento da versão da Copa de 2018.
Ainda entre os itens oficiais, a bola de futebol da Copa, a a Al Rihla, da Adidas, está R$ 249,90, valor 40% acima da irmã da Copa de 2018, a Telstar 18. E para quem se contenta com itens mais em conta, o envelope com cinco figurinhas da Copa está sendo vendido a R$ 4, o dobro do valor cobrado na Copa da Rússia.
Churrasco mais caro
Até dá para dispensar a camisa e as figurinhas, mas é impensável acompanhar os jogos sem pensar automaticamente em um churrasco. Pois o desembolso será maior não só para comprar as carnes, mas também acompanhamentos e bebidas (alcóolicas ou não).
As carnes acumulam uma alta de 76,6% desde a Copa da Rússia. Ter o acompanhamento de um pãozinho está mais de 30% mais caro e a cerveja subiu em torno de 18%. Não consome álcool? O refrigerante também tem preços mais elevados, acumulando alta de 23%.
O item de menor alta foi a farinha de mandioca, utilizada para a farofa, que subiu 2,6%.
A má notícia é que ainda há espaço para novas elevações até novembro.
“A inflação vai continuar incomodando nos próximos meses até a Copa. Devemos verificar aumento nas bebidas alcóolicas e não alcóolicas e ainda há a pressão dos alimentos”, diz Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.
O economista explica que a maior parte da alta de preços ocorreu entre maio do ano passado e abril de 2022. Foi nesse intervalo de tempo que a inflação medida pelo IPCA atingiu o pico do entre Copas: 12,13%.
Motivos da alta da inflação
Fatores externos e internos contribuíram para essa alta de preços. No exterior, o motivo mais recente é a guerra na Ucrânia, que contribuiu para a elevação do preço de matérias-primas, como petróleo e grãos.
Já no cenário interno, os preços da energia encareceram os custos de produção em 2021 devido à escassez hídrica. Também houve um aumento da demanda devido ao avanço da vacinação contra a Covid-19.
Esses fatores seguem gerando efeito. Com o encarecimento dos grãos, ficou mais caro alimentar animais de abate, elevando o preço final das carnes. Esse processo ainda não está normalizado, segundo Imaizumi.
Para o economista, os aumentos de preços de alimentos e bebidas podem reduzir o consumo durante a Copa ou, no mínimo, fazer com que o consumidor busque por alternativas mais baratas.
“Esses preços podem restringir o consumo ou afetar a qualidade, se a opção for por um item mais barato. Isso ocorre porque o brasileiro não só perdeu o poder de compra com a inflação como ainda precisou aceitar empregos de menores salários”, explica.
Decidiu abandonar a camisa e desistiu do churrasco para assistir sozinho o jogo pela TV? Os televisores acumulam alta de 17%.
Auxílio Brasil
Alexandre Espírito Santo, economista-Chefe da Órama Investimentos, lembra que a inflação tem atingido todas as economias. Para lidar com os preços em alta, um dos mecanismos é a elevação das taxas de juros. A Selic está atualmente em 13,75% ao ano – durante a pandemia, chegou a 2%.
“A desaceleração da inflação no Brasil está começando antes. Esse ano vamos ter uma inflação perto de 7% e no ano que vem, pouco acima de 5%”, diz.
Apesar da desaceleração, o economista lembra que esse é um processo lento devido à indexação na economia, o que faz com que parte da inflação passada se reflita no presente.
Para ele, ainda é incerto o efeito do aumento do Auxílio Brasil em R$ 200, que é válido até dezembro mas que deve ser renovado em 2023. Isso porque, de um lado, a medida tem um efeito de aumento da demanda e pressão dos preços, mas, por outro, os juros elevados seguram a economia.