Muitos especialistas em educação financeira costumam dizer que investir em ações gera bons retornos no longo prazo. Será que isto acontece sempre? Quem investiu R$ 100 no índice Bovespa em 09/mar/1995, hoje teria R$ 3.183 (um acréscimo de quase 31 vezes no patrimônio), enquanto os R$ 100 no CDI teriam gerado um saldo de R$ 1.786, uma diferença gigantesca.
No entanto, quem investiu R$ 100 no índice Bovespa em 13/set/1994, alguns meses antes, hoje teria “apenas” R$ 1.235 (de 13/set/1994 a 18/fev/2011), enquanto o investimento em CDI, neste mesmo período, teria gerado saldo de R$ 2.216. O propósito deste texto é apenas o de mostrar que a crença de que investir em ações é sempre bom no longo prazo, nem sempre é verdadeira.
O gráfico abaixo mostra um comparativo entre investimentos no índice Bovespa e no CDI-over. Diferentemente de outros gráficos tradicionais, este mostra os valores que cada investidor teria ao aplicar R$ 100 em uma certa data e tivesse mantido o investimento até o dia 18/02/2011. Os preços do índice Bovespa utilizados são o de fechamento e as taxas de CDI são as médias diárias divulgadas pela Cetip. A valorização apresentada é bruta, isto é, sem descontar imposto de renda e custos operacionais.
Evidentemente, os picos que aparecem nos dados referentes ao iBovespa correspondem aos momentos de crise. Os que investiram no índice nos momentos de grande euforia, muito provavelmente tiveram retorno abaixo do que teriam recebido, caso tivessem aplicado no CDI.
Alguns podem argumentar que investindo periodicamente, o resultado poderia ser bastante diferente. Como teria sido o resultado, caso os investimentos fossem distribuídos ao longo do tempo? No gráfico seguinte, fizemos uma simulação onde o investimento foi de R$ 1,00 a cada dia útil.
Para quem começou a aplicar R$ 1 por dia entre o início do Plano Real (jul/1994) e meados de jun/2006, o retorno no índice Bovespa teria sido maior do que no CDI. Como exemplo, aplicando R$ 1 a cada dia útil entre 04/jul/1994 e 18/02/2011, o saldo no índice Bovespa seria de R$ 22.322,92 e no CDI, de R$ 21.120,38. O gráfico seguinte mostra os dados somente de 2005 em diante. Nele, é possível ver que aqueles que começaram a aplicar em ações pouco antes da crise do mercado hipotecário americano, tiveram desempenho inferior ao investimento no CDI.
É sempre bom salientar que o Brasil tem um longo histórico de altas taxas de juros e de inflação e, por conta disto, o investimento no CDI tem dado um ótimo retorno. Como estas taxas têm caído ao longo dos últimos anos, passa a ser pouco provável continuar tendo altos retornos apenas com investimentos conservadores.
Mesmo assim, há casos em que deixar o dinheiro embaixo do colchão pode ser uma boa opção. O próximo gráfico mostra o saldo em 18/02/2011 ao investir um iene (JPY) por dia no índice Nikkei 225 comparado com o capital total investido sem juros (o que equivale a deixar o dinheiro embaixo do colchão).
Assim, quem investiu um iene a cada dia a partir de 04/01/1984 até 18/02/2011 (mais de 26 anos!) teria nesta última data 4.839 ienes no índice Nikkei. Quem guardou o dinheiro no colchão, teria 6.670 ienes…
Concluindo, não acredite em tudo o que se fala sobre investimentos e não tome decisões financeiras baseado apenas nos comentários de especialistas. Vale muito a pena investir algum tempo para conhecer as diferentes opções de investimentos, inclusive ações, e dedicar algumas poucas horas por semana para cuidar de suas finanças.
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Obs.: Histórico de dados do índice Nikkei 225 obtido a partir do Yahoo! Finance (finance.yahoo.com) e Financial Times (markets.ft.com); Índice Bovespa, a partir do Yahoo! Finance (finance.yahoo.com): e CDI, a partir da Cetip (www.cetip.com.br)